terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Quer o amor de sua mulher? Não se esforce tanto!

Nós homens crescemos em um mundo onde a figura do amor romantico é idealizada. Desde crianças aprendemos a ver as mulheres como seres angelicais, puros e sem maldade que precisam de amor, proteção, carinho. Aprendemos erroneamente que as mulheres são o sexo frágil e nós o sexo forte. Por essa razão associamos a conquista da felicidade com a conquista do coração da mulher amada. Crescemos com ilusões e sonhos de romances cor-de-rosa apenas para sermos acordados subitamente de forma violenta pelo mesmo ser angelical que procuramos agradar e queremos ver feliz.

É justamente a mulher amada que muitas vezes acorda o homem para a realidade, agindo de forma ou até mesmo dizendo diretamente a ele que o amor não é o mais importante, que é apenas uma parte, mas não a mais importante. Às vezes, isso é mostrado de forma tão dura que faz parecer que o amor é a parte mais insignificante de um relacionamento. Além de magoado, o homem poderá muitas vezes se sentir humilhado pela mesma mulher que o “acordou para a realidade”, pois ele se sentirá uma criança perto dela, envergonhado por mostrar que ama demais quem apenas vê esse envolvimento emocional e essa necessidade de amar e ser amado, de precisar de sua companhia e seu amor incondicional, como uma fraqueza.

Às vezes acontece o pior. O homem é acordado diversas vezes pela mulher que ama, mas ainda assim não consegue se levantar e teima em voltar a dormir e sonhar com as doces ilusões do amor romantico, pois se esforça em acreditar que sua “cama de rosas” tem mais pétalas do que espinhos. No final, tudo o que resta ao homem apaixonado é despertar mais uma vez de seu sonho cor-de-rosa com marcas e escoriações causadas pelos espinhos da mais bela e delicada rosa.

O fato que ninguém aceita é que apenas os homens são verdadeiramente românticos. As mulheres, infelizmente, são seres mais visuais e sociais (se quiser, pode entender isso como futilidade). Como nos ensina Nessahan Alita, elas não amam em simples retribuição ao fato de serem amadas.
Esse tipo de conhecimento nos revolta e muitas vezes preferimos fechar os olhos e mais uma vez dormir em nossa cama de espinhos, sonhando com um amor intenso, perfeito, incondicional. Nossa não aceitação nos impede de acordar para a realidade e nos torna eternos prisioneiros da Matrix, que é justamente esse mundo de ilusões que escolhemos para viver, um mundo perfeito e idealizado que justamente por não condizer com a realidade apenas acaba nos levando ao sofrimento.

Sair da Matrix não é uma coisa fácil. Não bastam apenas os espinhos da realidade que muitas vezes nos atormentam para que consigamos sair da Matrix. Muitas vezes nem mesmo a consciência lógica dos fatos é capaz de nos livrar da Matrix. Para a maioria dos homens a única saída da Matrix é a morte. É comum vermos homens cairem cada vez mais por causa da Matrix, se rebaixando cada vez mais, se embriagando sempre, se tornando agressivos ou cafajestes, usando drogas ou, até mesmo, se valendo do suicídio. Para sair da Matrix não basta apenas o conhecimento de que ela é real, mas sim a morte do ego. O homem precisa morrer em si mesmo. Precisa eliminar sentimentos negativos como paixão, ódio, ciúmes, posse, medo, vaidade… Mas para isso é preciso muito estudo, muita reflexão, força de vontade, oração etc.

O apaixonado é visto como fraco e débil por aquela que ele ama. Nenhum de seus esforços será bem recebido. A mulher não quer alguém mendigando migalhas de amor e carinho. Sua visão distorcida a faz enxergar sentimentos nobres como o amor incondicional e seus aspectos como devoção e a necessidade de sua companhia como fraqueza e não existe nada que uma mulher odeie e despreze mais do que a fraqueza masculina.

Tudo o que você fizer será visto como pouco, por mais que você se esforce. Ela não te ama da mesma forma que um dia amou um ex-namorado e provavelmente nunca amará. Não importa que você sempre ligue para ela, dê seu apoio em todas as decisões que ela faça, a ajude em momentos de dificuldade, seja o ombro sempre presente quando ela precisar chorar, a acorde de manhã com beijos e uma bandeja com flores e café-da-manhã, cozinhe para ela, dê presentes, cante pra ela ou até mande um dia para ela parte da mais linda música que um dia começou a escrever para ela. Ela dará mais valor a um ex-namorado que nunca fez nada por ela apenas pelo fato dele ter um corte de cabelo ou usar roupas que a agradem mais. Talvez ela até critique sua aparência, diga que te ver do jeito que você está a faz perder todo o tesão por você, que está desanimada com o relacionamento. Por que isso? Porque não importa o tanto que você a agrade, ela irá sempre preferir um ex-namorado que nunca moveu um dedo simplesmente por ele ter uma aparência que siga mais os padrões da mídia, mesmo que ele seja assim simplesmente porque talvez seja um metrossexual cafajeste que gaste dinheiro em cremes hidratantes e tenha conta em lojas de roupas para estar sempre bem arrumado e bonito para atrair a atenção de outras mulheres.

Cruel? Talvez. Mas como disse neste artigo, mulheres são seres extremamente visuais e sociais. O amor é o que menos importa para elas pois elas mesmas não entendem o que é o amor. Seus esforços para ela são como uma molécula de poeira quando comparados a um corte de cabelo ou ao elogio de amigas anencéfalas. Inevitalmente em um relacionamento descobrimos que nunca teremos a mesma importância na vida de quem amamos que teve um dia um estranho que não fez nada, apenas causou um impacto visual positivo. Não teremos jamais a mesma importância, a mesma influência, o mesmo reconhecimento, a mesma admiração. Seremos apenas o cara que está do lado, uma obrigação social, um desagradável que deve mudar por ela e aprender a ser mais como o ex que foi o cara perfeito, apesar desse ex apenas ter tido a intenção de desfilar com uma moça bonita para os amigos moderninhos fúteis. Nossos valores, nossos gostos, nossas músicas, nossos livros, nossas opiniões? Isso não vale nada! Somos apenas os anormais com gostos estranhos que devem aprender a mudar e ser mais normais. No final perceberemos que elas até lutam para não assimilar nada do que temos e que por mais que nos esforcemos nunca seremos como um ex.

No final nem mesmo sua opinião em relação a tudo isso importa. Ela provavelmente verá como uma ofensa, como algo que a magoa ou até mesmo como fraqueza sua. Ela nunca aceitará que o fato de um dia ter te dito que quando ela estava com o ex o amou mais do que te ama hoje é algo inaceitável e que realmente magoa. Pior do que isso, é uma das poucas coisas que pode até mesmo acertar um homem que saiu da Matrix por se tratar também de uma das maiores humilhações que um homem pode receber. Homens, por natureza, são territorialistas. Querem ser mais em tudo, querem ser admirados, amados, receber toda a atenção e, obviamente, querem ser muito mais em tudo do que qualquer um tenha sido no passado e realmente não importa se ela amou um ex mais no passado mas não o ama mais hoje, o que importa é que um dia ela já amou alguém mais do que te ama hoje e é inaceitável para qualquer homem, aliás, para qualquer pessoa, que a pessoa que está ao seu lado tenha um dia visto alguém com mais amor, mais carinho e mais importância do que te vê hoje. Isso significa que ela não te ama como poderia e deveria amar, que não te ama de forma incondicional, que não te ama com todo o amor que tem em si e você é insignificante perto do que outro homem um dia foi para ela.

A conclusão é que não importa o tanto que você faz ou quem você é. O que realmente importa é o que aparenta ser. Café-da-manhã, bombons, almoços, músicas, companheirismo e todo o tipo de esforços não são tão valorizados como uma roupa e um corte de cabelo. Pra que tanto esforço? Esse é o erro dos homens honrados de bem. Quer ser valorizado e amado? Não se esforce tanto e não se importe tanto! Pegue o dinheiro que economizou para poder sair com ela, comprar presentes, chocolates ou algo assim e gaste consigo mesmo comprando roupas e indo ao barbeiro. Não só ela dará muito mais valor nisso como obviamente será tudo muito mais fácil para você
Finalizo este post indicando o artigo “Elas Gostam de Homens que Se Impõem” do blog Reflexões Masculinas. Pretendo mais para frente publicar mais artigos voltados ao masculinismo e falar um pouco sobre Nessahan Alita e sua genial obra.

Fonte: http://galacta.org/homem/quer-o-amor-de-sua-mulher-nao-se-esforce-tanto/

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

As nossas possibilidades de felicidade

Sigmund FreudÉ simplesmente o princípio do prazer que traça o programa do objectivo da vida. Este princípio domina a operação do aparelho mental desde o princípio; não pode haver dúvida quanto à sua eficiência, e no entanto o seu programa está em conflito com o mundo inteiro, tanto com o macrocosmo como com o microcosmo. Não pode simplesmente ser executado porque toda a constituição das coisas está contra ele; poderíamos dizer que a intenção de que o homem fosse feliz não estava incluída no esquema da Criação. Aquilo a que se chama felicidade no seu sentido mais restrito vem da satisfação — frequentemente instantânea — de necessidades reprimidas que atingiram uma grande intensidade, e que pela sua natureza só podem ser uma experiência transitória. Quando uma condição desejada pelo princípio do prazer é protelada, tem como resultado uma sensação de consolo moderado; somos constituídos de tal forma que conseguirmos ter prazer intenso em contrastes, e muito menos nos próprios estados intensos. As nossas possibilidades de felicidade são assim limitadas desde o princípio pela nossa formação. É muito mais fácil ser infeliz.O sofrimento tem três procedências: o nosso corpo, que está destinado à decadência e dissolução e nem sequer pode passar sem a ansiedade e a dor como sinais de perigo; o mundo externo, que se pode enfurecer contra nós com as mais poderosas e implacáveis forças de destruição; e, por fim, a relação com os outros homens. A infelicidade que esta última origina é talvez a mais dolorosa de todas; temos tendência para a considerar mais ou menos um suplemento gratuito, embora não possa ser uma fatalidade menos inevitável do que o sofrimento que provém das outras fontes.
Não é de admirar que, debaixo da pressão destas possibilidades de sofrimento, a humanidade esteja habituada a reduzir as suas exigências de felicidade, nem que o próprio princípio do prazer se modifique para um princípio da realidade mais acomodado sob a influência do ambiente externo. Se um homem se julga feliz, fugiu simplesmente à infelicidade ou a dificuldades. Em geral, a tarefa de evitar o sofrimento atira para segundo plano a de obter a felicidade. A reflexão mostra que há várias formas de tentar cumprir esta tarefa; e todas estas formas foram recomendadas por várias escolas de sabedoria na arte da vida e posta em prática pelos homens. A satisfação desenfreada de todos os desejos impõe-se em primeiro plano como o mais atractivo princípio orientador da vida, mas implica preferir o gozo à prudência e penaliza-se depois de uma curta satisfação. Os outros métodos, nos quais o evitar do sofrimento é o principal motivo, distinguem-se segundo a fonte de sofrimento contra a qual estão dirigidos. Algumas destas medidas são extremas e outras moderadas, algumas são unilaterais e outras tratam vários aspectos do assunto ao mesmo tempo. A solidão voluntária, o isolamento dos outros, é a salvaguarda mais rápida contra a infelicidade que possa surgir das relações humanas. Sabemos o que isto significa: a felicidade encontrada neste caminho é a da paz. Podemos defender-nos contra o temido mundo externo, voltando-nos simplesmente para uma outra direcção, se a dificuldade tiver que ser resolvida sem ajuda. Há na realidade um outro caminho melhor: o de cooperar com o resto da comunidade humana e aceitar o ataque à natureza, forçando-a a obedecer à vontade humana. Trabalha-se então com todos para o bem de todos.

Sigmund Freud, in 'A Civilização e os Seus Descontentamentos'

O que é a Matrix?

Tenho certeza que são pouquíssimos os homens no mundo que realmente entendam a Matrix. Os poucos que entendem seu conceito são os que já tiveram algum contato com a obra de Nessahan Alita ou com os blogs da Central Masculinista. Apesar do conhecimento da existência da Matrix já estar se espalhando, não encontrei ainda nenhum artigo detalhando especificamente o que é a Matrix.
Veja o diálogo entre Neo e Morpheu no filme Matrix:
Neo: O que é Matrix?
Morfeu: Você quer saber o que é Matrix? Matrix está em toda parte [...] é o mundo que acredita ser real para que não perceba a verdade.
Neo: Que verdade?
Morfeu: Que você é um escravo, Neo. Como todo mundo, você nasceu em cativeiro. Nasceu em uma prisão que não pode ver, cheirar ou tocar. Uma prisão para a sua mente.
O filme Matrix é praticamente uma analogia ao Mito da Caverna de Platão (ou Alegoria da Caverna). Para os que não conhecem, a alegoria da caverna mostra seres humanos que cresceram em uma caverna, acorrentados de modo que não pudessem mudar os olhos de direção, de que sempre veriam sombras do mundo exterior que se projetavam nas paredes da caverna. Eles não sabem que existe um mundo fora da caverna e por isso tem como sua única realidade aquelas sombras. Imagine que um daqueles consiga se libertar da corrente e sair da caverna. Ele se assustaria ao ver pela primeira vez o mundo e seu conhecimento da realidade seria um pesadelo no início (assim como tudo que é novo e contrário ao que acreditamos) mas com o tempo se acostumaria e tentaria mostrar aos outros o que descobriu. E as reações seriam sempre negativas, indo do deboche à violência. Essa alegoria foi usada por Platão para mostrar que o homem vive em ignorância e toma muitas coisas por verdade universal e que é importante conseguirmos superar essa ignorância.

O cenário é o mesmo nos relacionamentos. Desde o nascimento somos condicionados a viver dentro da Matrix, a tomá-la como uma única verdade universal e acreditar em suas ilusões. É a Matrix a principal causa do sofrimento emocional do homem, de levá-lo a crer em ilusões para depois arrancá-lo destas mesmas ilusões levando-o ao desespero, ao fundo do poço e, muitas vezes, até mesmo ao suicídio.
A Matrix antecede, ultrapassa e é criadora do Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley. Leva homens a usarem o nome de Deus nas cruzadas com a mesma rapidez que os leva ao ateísmo. Leva homens ao altar com juras de amor eterno e mulheres aos prostíbulos e capas de revistas como Playboy com promessas de fama, fortuna e felicidade. É o produto criado pelas fraquezas do ser humano, pela dominação do forte pelo fraco com mentiras e ao mesmo tempo é criadora de todas essas fraquezas, mentiras e traições. Enfim, a Matrix é a mãe do relativismo, da hipocrisia, das ilusões. Sua força é proporcional à fraqueza e ao apego do homem pelas ilusões.

Nos relacionamentos, a Matrix é a responsável pela crença no amor romantico, em um relacionamento tranquilo, na pureza feminina. O matrixiano acredita com todas as forças que a mulher é um ser angelical, livre de falhas, perfeito em cada molécula de seu ser. As correntes da Matrix prendem o matrixiano com ganchos que perfuram a carne e a alma e inebriam os sentidos, levando o homem ao fundo do poço, ao sofrimento e à devastação da própria vida por migalhas de um amor que nunca existiu. As ilusões são tão tentadoras que mesmo atos pérfidos que refletem o lado obscuro das mulheres são ignorados, afinal, é quase impossível dar as costas para uma doce ilusão, mesmo quando estamos conscientes do absurdo presente na mesma.

O matrixiano despe-se de sua honra, de seu orgulho e, enfim, de seu amor próprio. Ele se humilha, se rebaixa e se entrega ao sofrimento da mesma forma que um mártir caminha para o próprio sacrifício. O sofrimento causado pela Matrix ofusca os objetivos e ambições de um homem. O matrixiano se deixa levar por paixões profanas querendo se sentir vivo para no final apenas conseguir essa sensação através da dor que sente. A matrix é reforçada no coletivo por filmes e livros de romance, músicas, poemas e frases de impacto que colocam o “amor” não retribuído acima do amor próprio. Músicas que idolatram o feminino, a paixão, as sensações, letras que dizem que é “melhor sofrer por amor do que nunca ter amado”, filmes onde a mulher traí o homem com outro e ainda assim aparece a cena clichê do apaixonado correndo atrás dela no aeroporto, são apenas alguns exemplos.

Mulheres não são seres angelicais e perfeitos. Assim como em todo ser humano, a mulher tem seu lado obscuro e esse lado obscuro é ainda mais sombrio e intenso que o do homem. Elas não são mais sensíveis do que nós, como tentam nos fazer acreditar. Na maior parte das vezes a sensibilidade feminina não passa de uma máscara, uma forma de lograr com o instinto de proteção masculino. Desde cedo elas aprendem por meio de observação e prática que com uma voz suave conseguem tirar tudo de um homem e que se não conseguem algo com uma voz doce, podem conseguir com o choro (se tudo falhar, elas sabem que ainda podem usar a sedução). Nós homens, ao contrário, somos obrigados desde cedo a nos fechar por dentro. Qualquer demonstração de sentimento é ridicularizado e visto como fraqueza emocional, mesmo pelas doces mulheres. Um homem que chora é considerado desequilibrado ou até mesmo boiola. Por esse motivo os homens ainda em idade tenra aprendem a controlar melhor seus sentimentos, mas isso não significa que não os tenha. Na verdade os sentimentos masculinos são ainda mais intensos que os femininos. Apenas os homens são verdadeiramente românticos e capazes de amar uma mulher de forma incondicional, enquanto a mulher nunca ama simplesmente pelo fato de ser amada, mas por algum interesse. A mulher se vê como um prêmio e acredita com todas as forças que o homem apaixonado é um ser débil e fraco e que justamente por seus sentimentos não a merece, pois ela apenas prêmia os que considera superiores, que segundo sua visão distorcida são os cafajestes, marginais, playboys etc. São sadomasoquistas por natureza, mesmo que não percebam conscientemente. Sentem prazer ao saber que estão fazendo um homem sofrer ao mesmo tempo em que sentem prazer quando sofrem na mão de um cafajeste. Em uma relação o homem busca a tranquilidade, enquanto a mulher busca emoções loucas e intensas.

Muitas, enquanto não encontram o “amor bandido” que tanto sonham, se valem das desculpas mais imbecis para brincar com os sentimentos do matrixiano, levando-o ao sofrimento e a loucura, o que é uma coisa perigosa não apenas para o matrixiano, mas também para a espertinha em questão. O relativismo matrixiano chega ao ponto de impedir ambas as partes de diferenciar dor e prazer. Porém, não é necessário que o homem saia da Matrix para uma mulher desonesta se dar mal. Muitas vezes um matrixiano bonzinho pode chegar ao limite e estourar, levando tudo a uma conclusão desastrosa (um exemplo são os crimes de honra, onde o corno assassina a adultera ao descobrir a traição). Podemos concluir que o relacionamento e a própria Matrix é, tanto para um homem apaixonado de bem quanto para uma mulher promíscua e desonesta, como a Caixa de LeMarchand (também conhecida como Configuração dos Lamentadores), que promete os prazeres do Céu e do inferno. E infelizmente a maioria das mulheres não quer saber qual desses “prazeres” receberá, contanto que os receba.

Para sair da Matrix o homem não deve apenas enxergar a realidade, mas também “morrer em si mesmo”. Matar suas emoções, seus medos e inseguranças, seu ego. O homem deve transcender as paixões mundanas, as emoções profanas, o narcisismo, o medo de morrer sozinho. Um homem de verdade é racional e coloca seus objetivos e metas acima de seus sentimentos. As mulheres não devem ser NUNCA o principal objetivo de um homem e sim uma companheira que estará ao seu lado apoiando-o na luta por seus objetivos. Se não for assim, então é melhor ficar sozinho, lembrando o ditado popular: “antes só do que mal acompanhado”.

Também devemos lembrar que a Matrix não ofusca o homem apenas nos relacionamentos, mas em tudo na vida, incluindo estudos e trabalho. Um exemplo da “Matrix profissional” é a tal meta comum hoje de muitos homens que desejam apenas se formar para prestar um concurso público ou começar a trabalhar o quanto antes para comprar uma casa, se casar e ter filhos e passar o resto da vida se matando em um emprego que odeia por um salário medíocre onde sua capacidade não é valorizada e tudo o que resta são os fins de semana assistindo os programas chatos e imbecis de domingo dos canais abertos. A “matrix profissional” impede o homem de tentar criar algo novo, de se aventurar no mundo dos negócios, de tentar abrir sua própria empresa. O trabalhador matrixiano se amarra fortemente na ilusão da segurança de um trabalho com carteira assinada e passa o resto da vida sem se livrar das amarras, preso com suas asas cortadas dentro de uma gaiola, invejando os que são livres para alçar vôo e alcançar o céu.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A Coragem de Seres Só

Agostinho da SilvaUma arma de triunfo te dei, sobre todas as outras: a coragem de seres só; deixou de te afectar como argumento ou força esmagadora a alheia opinião, as ligeiras correntes e os redemoinhos do mar; rocha pequena, mas segura, sobre ti se hão-de erguer, para que vençam a noite, as luzes salvadoras; não te prendem os louvores dos que te querem aliado, nem as ameaças dos contrários; traçaste a tua rota e hás-de segui-la até ao fim, sem que te desviem as variadas pressões. Só e constante, mesmo em face do tempo; os anos que rolam tu os consideras elemento de experiência; para os homens futuros episódios sem valor; se eles te abaterem, só terão abatido o que há de menos valioso; e contribuirão para que melhor se afirme o que puseste como lição da tua vida; a muitos absorve o actual; mas a ti, que tens como tua grande linha de cultura, e porventura tua alma, a posse das largas perspectivas, a hora começando te vê firme e firme te abandona. Nenhuma estóica rigidez neste teu porte; antes a compassada lentidão, a facilidade maleável de bom ginasta; não é por amor da Humanidade que hás-de perder as mais fundas qualidades de homem. Em tal espelho me revejo, eu que tomei tua alma incerta e a guiei; e contemplo como doce oferenda, como a mais bela visão que me poderias conceder, a clara manhã que já de ti desponta e lentamente progredindo há-de acabar por embalar o universo nos seus braços de luz.

Agostinho da Silva, in 'Considerações'

A Moral entre a Verdade a Subjetividade

Robert MusilUm homem que busca a verdade torna-se sábio; um homem que pretende dar rédea solta à sua subjectividade torna-se, talvez, escritor; e que fará um homem que busca algo que se situa entre essas duas hipóteses? Mas tais exemplos, os de algo que está «entre», encontramo-los em qualquer sentença moral, a começar pela mais simples e mais conhecida: «não matarás». Vê-se imediatamente que não é nem uma verdade nem uma experiência subjectiva. Sabe-se que, em muitos aspectos, nos conformamos estritamente a ela, mas que, por outro lado, se aceitam numerosas excepções, ainda que perfeitamente delimitadas; no entanto, num grande número de casos de um terceiro tipo - por exemplo na imaginação, na esfera dos desejos, nas peças de teatro ou no prazer que experimentamos ao ler as notícias dos jornais - deixamo-nos oscilar descontroladamente entre a aversão e a atracção.Por vezes aquilo a que não podemos chamar nem verdade nem experiência pessoal recebe o nome de imperativo. Tais imperativos foram associados aos dogmas da religião ou da lei, concedendo-lhes assim o carácter de uma verdade derivada, mas os romancistas narram as excepções, a começar pelo sacrifício de Abraão e terminando na bela mulher jovem que matou o amante a tiro, e dissolvem tudo isso de novo em subjectividade. Assim, ou nos agarramos a um qualquer mastro, ou nos deixamos andar ao sabor das ondas - mas com que sentimentos? O sentimento da maior parte das pessoas em relação a este preceito é um misto entre a obediência cega (incluindo a «tendência natural» dos que nem querem pensar numa coisa dessas, mas que, minimamente desviados do seu lugar pelo álcool ou pela paixão, o fazem sem hesitações) e o esbracejar inconsciente numa onda cheia de possibilidades. Não haverá mesmo outra maneira de entender aquela sentença moral?

Robert Musil, in 'O Homem sem Qualidades'

A Torpe Sociedade Onde Nasci

I

Ao ver um garotito esfarrapado
Brincando numa rua da cidade,
Senti a nostalgia do passado,
Pensando que já fui daquela idade.

II

Que feliz eu era então e que alegria...
Que loucura a brincar, santo delírio!...
Embora fosse mártir, não sabia
Que o mundo me criava p'ra o martírio!

III

Já quando um homenzinho, é que senti
O dilema terrível que me impôs
A torpe sociedade onde nasci:
— De ser vítima humilde ou ser algoz...

IV

E agora é o acaso quem me guia.
Sem esperança, sem um fim, sem uma fé,
Sou tudo: mas não sou o que seria
Se o mundo fosse bom — como não é!

V

Tuberculoso!... Mas que triste sorte!
Podia suicidar-me, mas não quero
Que o mundo diga que me desespero
E que me mato por ter medo à morte...

António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A Difusão das Falsas Doutrinas

Eckermann: O pior disso é que existem tantas doutrinas falsas que um jovem de talento não sabe a que santo se deveria dedicar. Goethe: Temos provas disso. Vimos gerações inteiras ser arrumadas ou prejudicadas por falsas máximas, assim como nós também sofremos. Hoje em dia, ainda por cima, existe essa facilidade de difundir todo o tipo de erro por meio da palavra impressa. Embora um crítico possa pensar melhor após alguns anos, e transmitir ao público conceitos mais aprimorados, as suas falsas doutrinas permaneceram vigentes entrementes, e, como ervas daninhas, continuarão a espalhar-se no futuro, ao lado do que é bom. O meu único consolo é que um talento realmente grande não se deixará desencaminhar ou estragar.

Johann Wolfgang von Goethe, in "Diálogos com Johann Peter Eckermann"

A Sociedade Destroça o Indivíduo

J.-M. G. Le ClézioTrata-se dum conjunto, dum todo, a sociedade, e, podre, uma vez que é preciso contar com ela ao mesmo tempo que se não deve contar. Quer dizer, é como um conjunto estável, composto por elementos instáveis. Ora é impossível viver no interior, sem sofrer essa instabilidade, esse monte de mentiras. Surge então o medo de utilizar o mínimo pormenor que participe dessa instabilidade. É a revolta. Você duvida do valor das palavras, dos gestos, do que representam as palavras, das ideias, das simples associações de ideias, dos sonhos e até da realidade, das sensações mais claras, mais agudas. Você duvida mesmo da sua dúvida, da organização que toma, da forma que adopta. Não lhe fica nada, nada. Já não é nada, é um camaleão, um eco, uma sombra. Isso é obra da sociedade, compreende?

J.-M. G. Le Clézio, in 'A Febre'

Os Livros Estão Sempre Sós

Ana HatherlyOs livros estão sempre sós. Como nós. Sofrem o terrível impacto do presente. Como nós. Têm o dom de consolar, divertir, ferir, queimar. Como nós. Calam a sua fúria com a sua farsa. Como nós. Têm fachadas lisas ou não. Como nós. Formosas, delirantes, horrorosas. Como nós. Estão ali sendo entretanto. Como nós. No limiar do esquecimento. Como nós. Cheios de submissão ao serviço do impossível. Como nós.

Ana Hatherly, in 'Tisanas'