segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Todo mal provém não da privação, mas do supérfluo

Ser feliz é, afinal, não esperar muito da felicidade, ser feliz é ser simples, desambicioso, é saber dosear as aspirações até àquela medida que põe o que se deseja ao nosso alcance. Pegando de novo em Tolstoi, que vem sendo em mim um padrão tutelar, lembremos de novo um dos seus heróis, o príncipe Pedro Bezoukhov (do romance 'Guerra e Paz'). As circunstâncias fizeram-no conviver no cativeiro com um símbolo da sabedoria popular, um tal Karataiev. Pois esse companheirismo desinteressado e genuíno, esse encontro com a vida crua mas desmistificadora, não só modificaram o príncipe Pedro como lhe revelaram o que ele precisava de saber para atingir o que nós, pobres humanos, debalde perseguimos: a coerência, a pacificação interior, que são correctivos da desventura. Tolstoi salienta-nos que Pedro, após essa vivência, apreendera, não pela razão mas por todo o seu ser, que o homem nasceu para a felicidade e que todo o mal provém não da privação mas do supérfluo, e que, enfim, não há grandeza onde não haja verdade e desapego pelo efémero. Isto, aliás, nos é repetido por outra figura de Tolstoi, a princesa Maria, ao acautelar-nos com esta síntese desoladora: «Todos lutam, sofrem e se angustiam, todos corrompem a alma para atingir bens fugazes».

Fernando Namora, in 'Sentados na Relva'

Opinião independente

É fácil viver no mundo conforme a opinião do mundo: é fácil na solidão viver conforme a própria opinião; mas grande homem é o que, no meio da multidão, conserva com plena serenidade a independência da solidão.

Ralph Waldo Emerson, in 'Ensaios'

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A vida vazia da Cidade


Instalámo-nos, portanto, na cidade. Aí toda a vida é suportável para as pessoas infelizes. Um homem pode viver cem anos na cidade, sem dar por que morreu e apodreceu há muito. Falta tempo para o exame de consciência. As ocupações, os negócios, os contactos sociais, a saúde, as doenças e a educação das crianças preenchem-nos o tempo. Tão depressa se tem de receber visitas e retribuí-las, como se tem de ir a um espectáculo, a uma exposição ou a uma conferência.
De facto, na cidade aparece a todo o momento uma celebridade, duas ou três ao mesmo tempo que não se pode deixar de perder. Tão depressa se tem de seguir um regime, tratar disto ou daquilo, como se tem de falar com os professores, os explicadores, as governantas. A vida torna-se assim completamente vazia.

Leon Tolstoi, in "Sonata a Kreutzer"

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O amor-próprio como fonte de todos os males


É preciso não confundir o amor-próprio e o amor de si mesmo, duas paixões muito diferentes pela sua natureza e pelos seus efeitos. O amor de si mesmo é um sentimento natural que leva todo o animal a velar pela sua própria conservação, e que, dirigido no homem pela razão e modificado pela piedade, produz a humanidade e a virtude. O amor-próprio é apenas um sentimento relativo, factício e nascido na sociedade, que leva cada indivíduo a fazer mais caso de si do que de qualquer outro, que inspira aos homens todos os males que se fazem mutuamente, e que é a verdadeira fonte da honra.
Bem entendido isso, repito que, no nosso estado primitivo, no verdadeiro estado de natureza, o amor-próprio não existe; porque, cada homem em particular olhando a si mesmo como o único espectador que o observa, como o único ser no universo que toma interesse por ele, como o único juiz do seu próprio mérito, não é possível que um sentimento que teve origem em comparações que ele não é capaz de fazer possa germinar na sua alma.
Pela mesma razão, esse homem não poderia ter ódio nem desejo de vingança, paixões que só podem nascer da opinião de alguma ofensa recebida. E, como é o desprezo ou a intenção de prejudicar, e não o mal, que constitui a ofensa, homens que não se sabem apreciar nem se comparar podem fazer-se muitas violências mútuas para tirar alguma vantagem, sem jamais se ofenderem reciprocamente. Numa palavra, cada homem, vendo os seus semelhantes apenas como veria os animais de outra espécie, pode arrebatar a presa ao mais fraco ou ceder a sua ao mais forte, sem encarar essas rapinagens senão como acontecimentos naturais, sem o menor movimento de insolência ou de despeito, e sem outra paixão que a dor ou a alegria de um bom ou mau sucesso.

Jean-Jacques Rousseau, in 'Discurso Sobre a Origem da Desigualdade'

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Daily Míllor - Prevenção contra assaltos

Como os assaltos crescem dia-a-dia, não podendo contê-los, a PM, sabiamente, dá conselhos aos cidadãos para serem menos assaltados:

1) Não demonstre que carrega muito dinheiro.
2) Jamais deixe objetos à vista, dentro do carro.
3) Levante todos os vidros, mesmo em movimento.
4) Não deixe documentos no veículo.
5) Na volta, ao se aproximar do carro, verifique se não há alguém suspeito por perto.
6) Não leve objetos de valor nem muito dinheiro para a praia.
7) Se, ao ir à praia, for de carro, coloque o veículo num ponto em que fique ao alcance de sua vista.
8) À noite, em locais escuros, use faróis altos.
9) Não dirija com o braço fora do carro.
10) Ao chegar em casa e antes de descer para abrir o portão, ou esperar por isso, verifique se não há pessoas suspeitas por perto.
11) À noite não se deixe aproximar por veículos com mais de dois homens.
12) Se assaltado, fique calmo. Não faça movimentos bruscos e evite encarar os assaltantes. Não discuta nem reaja.
13) Evite aglomerações. Nos locais em que todos se acotovelam os punguistas agem.

Depois de ler com extrema atenção estas instruções oficiais, acrescento as minhas, ou melhor, resumo:

1) Não saia de casa.
2) Se possível, não saia do quarto.
3) De preferência, não saia do cofre.

Mais Daily Míllor em: http://www2.uol.com.br/millor/